sábado, 28 de junho de 2014

Transgênicos e danos à saúde: tantos resultados vitais para a sobrevivência da Humanidade deveriam ter sido publicados em revista de enorme impacto. Porque Séralini não publicou seu artigo na Nature?

Recife, 28 de junho de 2014

Esta postagem é a 200ª. do portal GenPeace, que chega agora a 40.000 visitas, espalhadas pelo Brasil e por mais de 15 países. O responsável pelo blog, Prof. Paulo Andrade, agradece o interesse de todos ao longo destes dois anos.

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Sinopse do artigo zumbi e de sua história pregressa

Séralini e seus colegas alimentaram ratos por 2 anos com milho transgênico e observaram que tinham mais tumores e outros problemas graves de saúde do que os animais alimentados com milho convencional. O artigo estava recheado de erros metodológicos gravíssimos (da escolha da linhagem de ratos, passando pelo desenho experimental e terminando na estatística) e nunca deveria ter sido aceito. Mas o foi, causando uma enorme polêmica e um tremendo desgaste para as agências de avaliação de risco. Depois de um ano, foi retirado de circulação pela revista, uma vez que os autores se negaram a fazê-lo, quando solicitados.

Mais uma vez no cenário, republicado por uma revista científica europeia, o artigo zumbi de Séralini  está cercado de polêmica.

Os autores saíram em campo dizendo que o artigo foi revisto pelos pares (peer-reviewed) e voltaram a insistir nas mesmas conclusões anteriores. Mas um dos editores da revista deixou antever, numa frase obscura, que não houve revisão alguma. Pressionados, os editores declararam que não houve revisão de mérito, mas apenas de forma: o conteúdo  foi essencialmente igual ao do artigo anterior, rejeitado pela revista Food and Chemical Toxicology.

Afinal, porque um artigo rejeitado por falta de consistência científica é republicado numa revista cientifica, ou que ao menos assim se intitula? Os editores já tinham explicado ao público: para disponibilizar o acesso a um artigo que deveria ser mais discutido, ao menos em relação a sua metodologia. Certo? Errado!

 O acesso ao texto pode ser feita de muitas outras formas, inclusive pelo site do Criigen, instituto que apoia o Séralini, não há a menor necessidade de republicar um artigo retirado de uma revista séria para se garantir acesso a ele. A republicação, por outro lado, abriu espaço para que o próprio Séralini e toda a sua legião de aduladores, aproveitadores e admiradores inocentes afirmem que está corroborada a “qualidade” do trabalho, o “erro” do editor da revista anterior e a influência da Monsato. Tudo abobrinha.

Dois dias depois da republicação  os portais brasileiros que normalmente apoiam o Seralini ainda estavam quietos. Finalmente eles aparecem, a partir de 26 de junho (Brasil de Fato; Em pratos limpos: AS-PTA), embora timidamente, repetindo o que dizem seus ícones estrangeiros de sempre.

A História se repete, a primeira vez como drama, a segunda como farsa.

Mas, afinal, se os resultados do Seralini mostram que o milho transgênico impacta diretamente a saúde de bilhões de pessoas e animais que consomem comida ou ração transgênica, porque não foram aceitos e publicados nas revistas mais importantes, como a Nature, a Science, o New England Journal of Medicine ou a Lancet? Não é óbvio que algo assim tão importante deveria ter sido publicado em prestigiosa revista desde a primeira vez, quase dois anos atrás?

Alguns argumentarão que as grandes empresas controlam os conglomerados editores, mas isso é completamente absurdo. Outros poderiam argumentar que os autores nem procuraram publicar nestas revistas, o que já é mais razoável. Seja como for, a Food and Chemical Toxicology é uma revista de bastante prestígiosa e, se o artigo não tivesse sido retirado dela, o Séralini e sua turma estariam à vontade para afirmar que seu artigo havia sido revisto pelos pares (como de fato o foi, ainda que mal!).  Na sua segunda tentativa, o Seralini deveria ter procurado uma revista de grande impacto. Provavelmente o fez, deve ter tentado várias, mas terminou numa revista de baixíssimo impacto e que tem claramente um viés contra a biotecnologia agrícola e contra muitas outras novas tecnologias (link 6).

Que lição se tira disso? Que a republicação é um golpe publicitário e não representa reconhecimento algum do mérito do trabalho anterior. A republicação mostra quem é Séralini: um pseudo-cientista a soldo dos aglomerados comerciais orgânicos e contra os alimentos transgênicos. O Séralini conta em geral com amplo apoio de um movimento contra os OGM que vem sendo financiado  internacionalmente por grandes redes de supermercados e outras grandes empresas, com zero de transparência e total desprezo pela ciência e seus métodos.

Agora o artigo zumbi vai galopar por um tempo que dependerá da eficiência da comunidade científica em desmascará-lo, com apoio da mídia. Não se deve esperar que a nova revista, a Environmental Sciences Europe (http://www.enveurope.com/) retire o artigo de circulação, pois não precisa manter uma credibilidade que não tem. Mas, em nossa leitura, este prato requentado já não atrai tanto a atenção da grande mídia e mesmo entre a mídia alternativa, online, ele vem sendo olhado com muita desconfiança. Acreditamos que o zumbi será sepultado em breve, restando dele apenas o fedor e o susto que deu nas criancinhas expostas a suas histórias de terror.


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